O Comboio
A maneira mais romântica de viajar pelo
vale do Douro é de comboio.
O silvar do aço sobre os carris ou os apitos prolongados anunciando a proximidade de uma estação vão-nos despertando para a grandeza do rio, para a imponência de algumas
quintas e das suas casas, para o recorte geométrico das
vinhas, para a verticalidade das encostas, para o entalhe dos vales, para o miradouro que se adivinha na linha do horizonte.
É verdade que o comboio não deixa ver tudo, que só nos devolve imagens fugazes da paisagem. Mas é nessa vertigem que reside um dos seus maiores fascínios. Em pouco tempo, percebemos como a paisagem, apesar de marcada por uma matriz comum, estabelecida em torno da cultura da vinha, se vai modificando e ganhando novos matizes.
Vamos do
Baixo Corgo, na zona da
Régua, onde se concentra a maior mancha de vinha da região, até ao Douro Superior, mais árido mas de onde têm surgido alguns dos melhores vinhos; assistimos ao desfilar de todo o escol de quintas que povoam as duas margens do rio; podemos acompanhar o voo rasteiro dos patos ou o leve remoinho provocado pelo salto de um peixe, podemos ir mudando de perspectiva, olhar à direita e à esquerda, em frente ou no sentido inverso do trajecto.
O comboio segue lado a lado com o rio, ora rumando na mesma direcção, ora cruzando os destinos, mas cumprindo sempre o seu papel na sublimação da
paisagem duriense.