As vinhas do Douro

A partir do final de Agosto, o som metálico das tesouras de cortar as uvas começa a ecoar pelo vale do Douro. É o início do momento mágico das vindimas. Durante semanas, toda a região ressuma a folia e mosto.

Nas vinhas e nos lagares, homens e mulheres são tomados por um frémito encantatório que perdurará até ao último cacho. Como sempre, a dureza da faina será entretida com modinhas e graçolas e, no final, derreados mas felizes, todos se despedirão em festa. E quando o vinho começar a ferver nos tonéis, as videiras já exibirão combinações de esmeralda, ouro e sangue, que são, afinal, as cores do desígnio duriense.

Mas enquanto as vindimas não chegam, vale a pena desfrutar da paisagem duriense, com as encostas revestidas de vinhas viçosas e verdejantes. É uma imagem sempre arrebatadora, que mostra a verdadeira natureza do Douro.

Muitos vinhedos acompanham as curvas de nível, assentes em admiráveis socalcos de xisto ou em patamares, outros contrariam a geografia, desafiando as leis da natureza. No seu conjunto, palavra de escritores, formam “o mais belo e doloroso monumento ao trabalho do povo português” (Jaime Cortesão), “uma maravilha do homem” (Aquilino Ribeiro), “a única evidência incomensurável com que podemos assombrar o mundo” (Miguel Torga).

Em 2001, reconhecendo a genialidade desta paisagem cultural evolutiva e viva, a Unesco classificou o Douro como Património Cultural da Humanidade.